Açucena

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sábado, 14 de junho de 2014

Noite negra (By Mary Ibanhes


Noite terrível!
No silêncio das ermas horas
Um tic-tac de coração estrondava
Os vazios da caatinga
O pensamento via miragens estéreis
De  amores violados
Como a terra devastada
Nada havia para assegurar a paz
O canto da coruja era místico
E preconizador
Da transformação da angústia em dor
E a doçura daquele coração
Petrificava em medo
A voz do vento
Cortando os espinhos do mandacaru
Sibilava segredos distantes e medonhos
Nem os grilos cantavam
Embaixo das touceiras de facheiro
Nem lua havia para jogar
Um rasgo de luz
Que iluminasse o verde daquele olhar
Feroz, triste, morto
Ou mostrasse outra cor
Além do negrume da noite
Do “assum preto” e daquela
Alma cega como o pássaro
Que diferente dele não sabia cantar
Mas urrava dilacerada
Por uma “verdade” presumida
E seus urros açoitavam o tempo
Nem a chuva torrencial poderia
Lavar tanto desassossego
E alegrar os traços
Daquela face desesperada
Mas um assobio da consciência
Lembrou-lhe de quem ela era
Da terra de onde viera
E da força monumental
Que sempre a salvou
Filha da terra seca
Filha da luz do sol
Estrela ressuscitável
O amanhã nasceria
E ela colheria horizontes
Teceria enluaradas fantasias

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