Açucena

Açucena

sábado, 25 de janeiro de 2014

Aromas frutais (By Maria Ibanhes)



Minha história é feita
De pedras, espinhos e calor
Mas tem brisas por meus caminhos
Aromas de frutas e de flor.
Tem o colorido agreste
Da flora do meu nordeste
E os vários tons carmesins

As frutas e suas cores
Seus variados sabores
Me lembram um tempo alegre
Arrepiam minha epiderme
Com aqueles gostos molhados

A matutina melancia
Era a nossa alegria
Depois que a gente comia
Brincava o resto do dia
Com as esculturas de casca
Talhadas por nosso pai

A manga então, amarela
Verde ou vermelha
Açucarada ou travosa
Escorria pescoço à fora
Derretida a carne-cetim
E eu pintada de manga
Derramada de caldo
Nada tinha de metafórica
Era a lógica
Da menina anjo-querubim

E a cana-de-açúcar?
Fruta magra
Parece carcaça
Mas é cheia de água
Doce como o mel
E  antes de ser chupada
Virava rosa de rodelas
Em  talos de bambu fincada

Ah que doçura de infância!
Tudo era luminância
Até fruta era brinquedo
A vida não tinha segredo
Brincávamos de “jogos frutais”
E tinha caju carambola
Mangaba e graviola
Pitomba e maracujá
Seriguela e também cajá


sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Imagens do Sertão (By Maria Ibanhes)


O silêncio é uma pedra
Onde o calango escorrega
Olhando a flor amarela
Da catingueira verdinha
Que nos serve de sombrinha
Para o calor aplacar...

E o Sertão andaluz
Ilumina o que produz
Em facheiros, mandacarus
E selvagens lastrados de espinhos
Ilumina também os bichinhos
Com seus chocalhos a tocar
A vaca mocha a berrar
Fazem uma sinfonia
E barulhentos acordam o dia
Para a vida começar...

Quando o dia amanhece
Os olhos do sertanejo
Parece que rezam uma prece
E alcançam o pasto inteirinho
Vêem as algarobas e palmas
E os animais no caminho...

Tudo é luz e sol
Ampliando as rimas
Quentes das pedras
A urdir versos sem métricas
Ferindo a face da terra
Do homem e de qualquer deus...

Um cajueiro é um oásis em festa
Com a carnação dos seus frutos
Todo cercado de arbustos
Vigiado por avelós  
Faz o vaqueiro
Trigueiro
Aguar os lábios brejeiros
Com sua mordida veloz

Aqui tudo é quente
Não tem filosofia de kant
Ou de qualquer outro filosofo
Que explique o que é nosso
Nesses currais do sem fim
E quem pensa que somos só fome
Esquece a teima do homem
Nesse sertão carmesim

E como disse o  Santana:

“O que eu queria era ver:”
A metafísica de um bacana
Explicar a essência
Que emana
Do homem que vive aqui
Porque quem que disse
Que só temos fome e carência
Esquece que nossa essência
Só do sertão pode vir

É com a mesma teima
Da macambira e dos cactos
Que o sertanejo verseja
Não obedece, mas veja
Ele é o filósofo daqui.



quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Trevo de 4 folhas (By Maria Ibanhes)

Nas ladeiras de Olinda
Ao lado do meu amor
Passeando à vontade
Não encontramos o frevo
Nos acordes da saudade
Achamos um  pé de trevo
Na superfície de um lago
Colhemos dois, num afago
Com as quatro folhas verdinhas
Fazendo rimas bem clarinhas
Acenando-nos promessas de felicidade
Tinha também borboletas
Voando em carrapetas
E um ninho, nas margens
De nosso caminho
Agouros de sorte e carinho
Pra nos amarmos até a eternidade!