À todas as mulheres
Um dia, de súbito
Ela olhou-se no espelho e viu
Mais do que sua aparência física
Viu a imagem de quem ela é
Ela viu seus sentimentos
Seus pensamentos e opiniões
A respeito de tudo – da vida
Ela viu o seu corpo e alma marcados
Por séculos de dominação
Ela viu suas necessidades
Físicas
Mentais
Emocionais
Tantas vezes preteridas
Ela viu a matéria da qual é feita
Naquele instante revelador
Ela se cobriu de flores
E tatuou o seu corpo
Com suas próprias verdades
Abominou qualquer tipo de repressão
Pela primeira vez, sentiu-se dona de si
Senhora de sua vida
E foi naquele momento
Que ela jogou ao vento
Todas as humilhações
Todos os desamores
Todos os medos
Todos os dissabores
Todos os seculares mandamentos
Para uma mulher
Decidiu: eu farei meus próprios pecados
Eu não aceitarei menos do que eu mereço
E mereço muito
Não aceitarei em minha vida
Nada nem ninguém
Que desvirtue a minha essência
Serei eu
A comandar minhas vontades
A construir meus caminhos
Foi assim, que desde então
Ela foi Feliz dentro de suas possibilidades
E porque não esperou mais
Nenhum um príncipe
Nem alimentou nenhuma expectativa
Que dependesse do “Outro”
E esqueceu que lhe ensinaram a depender
E refutou todas às violências
Contra a sua natureza
Apenas por isso – ou por tudo isso
Ela já sentiu-se imensamente feliz!