Açucena

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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Imagens do Sertão (By Maria Ibanhes)


O silêncio é uma pedra
Onde o calango escorrega
Olhando a flor amarela
Da catingueira verdinha
Que nos serve de sombrinha
Para o calor aplacar...

E o Sertão andaluz
Ilumina o que produz
Em facheiros, mandacarus
E selvagens lastrados de espinhos
Ilumina também os bichinhos
Com seus chocalhos a tocar
A vaca mocha a berrar
Fazem uma sinfonia
E barulhentos acordam o dia
Para a vida começar...

Quando o dia amanhece
Os olhos do sertanejo
Parece que rezam uma prece
E alcançam o pasto inteirinho
Vêem as algarobas e palmas
E os animais no caminho...

Tudo é luz e sol
Ampliando as rimas
Quentes das pedras
A urdir versos sem métricas
Ferindo a face da terra
Do homem e de qualquer deus...

Um cajueiro é um oásis em festa
Com a carnação dos seus frutos
Todo cercado de arbustos
Vigiado por avelós  
Faz o vaqueiro
Trigueiro
Aguar os lábios brejeiros
Com sua mordida veloz

Aqui tudo é quente
Não tem filosofia de kant
Ou de qualquer outro filosofo
Que explique o que é nosso
Nesses currais do sem fim
E quem pensa que somos só fome
Esquece a teima do homem
Nesse sertão carmesim

E como disse o  Santana:

“O que eu queria era ver:”
A metafísica de um bacana
Explicar a essência
Que emana
Do homem que vive aqui
Porque quem que disse
Que só temos fome e carência
Esquece que nossa essência
Só do sertão pode vir

É com a mesma teima
Da macambira e dos cactos
Que o sertanejo verseja
Não obedece, mas veja
Ele é o filósofo daqui.