Eu te queria tanto bem
Mas tu te fostes
Passarinho ferido
mortalmente
Teu corpo estendido
Coberto pela manta de
brumas
Ao anoitecer
Vida escoando
Para longe da terra seca
Da família e do cão
Sem plumas
E naqueles ventos
outonais
Me viestes a memória
Como anjo vingador
Mas tão doce
Tua felicidade com minha
presença
Minha tristeza com tua
ausência
Minha fúria era um
vendaval
Cortando os cactos
Quem os lanhava era eu
Nunca eles a mim
Inconformada com teu
desaparecimento
Da pintura do sertão
Agora emoldurado
Pelo vazio da tua falta
Nunca mais colheremos
cajus
Nunca mais olharemos o
infinito
De cima da pedreira
Nunca mais conversaremos
Olhando as cabras comerem
Nunca mais relembraremos
nossa infância
Desenhando no ar nossas
travessuras
Nunca mais, nunca mais,
nunca mais
É um tempo sem fim!