Açucena

Açucena

terça-feira, 16 de junho de 2015

De bruma, de fúria e de vendavais (Maria G. de Ibanhes)


Eu te queria tanto bem
Mas tu te fostes
Passarinho ferido mortalmente
Teu corpo estendido
Coberto pela manta de brumas
Ao anoitecer
Vida escoando
Para longe da terra seca
Da família e do cão
Sem plumas
E naqueles ventos outonais
Me viestes a memória
Como anjo vingador
Mas tão doce
Tua felicidade com minha presença
Minha tristeza com tua ausência
Minha fúria era um vendaval
Cortando os cactos
Quem os lanhava era eu
Nunca eles a mim
Inconformada com teu desaparecimento
Da pintura do sertão
Agora emoldurado
Pelo vazio da tua falta
Nunca mais colheremos cajus
Nunca mais olharemos o infinito
De cima da pedreira
Nunca mais conversaremos
Olhando as cabras comerem
Nunca mais relembraremos nossa infância
Desenhando no ar nossas travessuras
Nunca mais, nunca mais, nunca mais
É um tempo sem fim!