Açucena

Açucena

terça-feira, 16 de junho de 2015

De bruma, de fúria e de vendavais (Maria G. de Ibanhes)


Eu te queria tanto bem
Mas tu te fostes
Passarinho ferido mortalmente
Teu corpo estendido
Coberto pela manta de brumas
Ao anoitecer
Vida escoando
Para longe da terra seca
Da família e do cão
Sem plumas
E naqueles ventos outonais
Me viestes a memória
Como anjo vingador
Mas tão doce
Tua felicidade com minha presença
Minha tristeza com tua ausência
Minha fúria era um vendaval
Cortando os cactos
Quem os lanhava era eu
Nunca eles a mim
Inconformada com teu desaparecimento
Da pintura do sertão
Agora emoldurado
Pelo vazio da tua falta
Nunca mais colheremos cajus
Nunca mais olharemos o infinito
De cima da pedreira
Nunca mais conversaremos
Olhando as cabras comerem
Nunca mais relembraremos nossa infância
Desenhando no ar nossas travessuras
Nunca mais, nunca mais, nunca mais
É um tempo sem fim!





quinta-feira, 11 de junho de 2015

Sinais Apocalíticos Maria G. Ibanhes


Estamos perdidos
Estamos todos perdidos
E há sangue em nossas mãos
Há sangue em nossos corpos
Não há relva nos campos
Nem pássaros
Nem florestas
Nem rios límpidos
Nem animais
As crianças nascem tortas
E as mulheres perdem seus seios
Não podem amamentar
Há sinais de loucura no ar
Há sinais de revolta dos deuses
Há um grande mistério pra ser decifrado
Mas ninguém sabe ler.  Nada!
Estamos todos cegos
Nas manhãs, a escuridão escoa
E as noites, as trevas não enxergam o luar
Há murmúrios de rezas
Mas são falsas
Há um terror latente, em cada coração
O mar está sempre revolto
Prenúncio de tsunamis!
Há lágrimas molhando os desertos
Mas não servem para fertilizar o solo
Há cactos espinhosos que ferem
Os nossos corpos
Há gemidos de dor por toda a Terra
Mas não há remédio
Há montanhas de alimentos
Todos envenenados!
Há fome de tudo
Principalmente de amor
Há desamor entre os povos
E entre irmãos
E a guerra abriu todas as fronteiras
A peste tem livre acesso
O caos é a rotina dos homens
E meu olhar não suporta
O fim que se aproxima
Em cavalos alados que voam em nossa direção!!!
Somos todos culpados.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Work in progress... (Maria G. Ibanhes)

              

Se essa vida me deixasse fazer poesia
Sem gosto de desespero, sem sabor de agonia...
Se essa vida me deixasse fazer poesia
Afastasse o desalento, quebrasse a monotonia
Se essa vida florescesse e me deixasse fazer poesia
Ignorasse a maldade, pisasse na hipocrisia
Se essa vida me deixasse fazer poesia
Com doçura de amor quentinho e vislumbres de acrobacia...
Se essa vida fosse menos madrasta e mais madrinha...
Se surgisse um raio de sol no final do cinza...
E se um arco-íris surgisse, colorindo o horizonte,
Eu faria um poema com sabor de eternidade
E bonito como o amor que sinto por você...
Profundo como os teus olhos
Suave como o teu sorriso
Talvez, eu espere todo o furacão passar
E reconstrua um Mundo sem lágrimas...
Mas, talvez, eu faça poesia de dor
 E espere o inverno, o ódio, a intolerância, os maus  
O inferno passarem...  Talvez...
E só depois, quando tudo for primavera
Eu escreva aquele poema de amor
Eu já não aguento tanta escuridão!