Açucena

Açucena

quinta-feira, 17 de março de 2016

Alice no País dos Absurdos (Maria Gonçalves Ibanhes)



Sou Alice

Encontro-me em um mundo paralelo

Cercada de uma SUPER REALIDADE

Ou IRREALIDADE

Difícil definir

Nonsense total

Do locus, das gentes

Dos animais da corte

Estes, raivosos

Corrompidos, sujos!

Todos correm em círculos

Há loucura por toda parte

Mas não há jardim

Nem bolo recheado

Que possa desfazer minha pequenez

Sou átomo impotente

E os enigmas são lançados

Rosas brancas e rosas vermelhas

Jogo de cartas

A cabeça de uma certa rainha

Está a prêmio

E há valetes de paus

Caras de pau

O julgamento é presidido

Por um rei condenado

Teatro do absurdo

República de bananas

Quem é inocente?

Queria ser uma lagarta azul

E ficar em paz

Fumando meu narguilé

Mr.  Habbit, me empreste o seu relógio

Acho que está na hora de partir

Ou acordar do pesadelo

terça-feira, 8 de março de 2016

O dia em que ela tornou-se Mulher... (Maria Gonçalves Ibanhes)



À todas as mulheres



Um dia, de súbito

Ela olhou-se no espelho e viu

Mais do que sua aparência física

Viu a imagem de quem ela é

Ela viu seus sentimentos

Seus pensamentos e opiniões

A respeito de tudo – da vida

Ela viu o seu corpo e alma marcados

Por séculos de dominação

Ela viu suas necessidades

Físicas

Mentais

Emocionais

Tantas vezes preteridas

Ela viu a matéria da qual é feita

Naquele instante revelador

Ela se cobriu de flores

E tatuou o seu corpo

Com suas próprias verdades

Abominou qualquer tipo de repressão

Pela primeira vez, sentiu-se dona de si

Senhora de sua vida

E foi naquele momento

Que ela jogou ao vento

Todas as humilhações

Todos os desamores

Todos os medos

Todos os dissabores

Todos os seculares mandamentos

Para uma mulher

Decidiu: eu farei meus próprios pecados

Eu não aceitarei menos do que eu mereço

E mereço muito

Não aceitarei em minha vida

Nada nem ninguém

Que desvirtue a minha essência

Serei eu

A comandar minhas vontades

A construir  meus caminhos

Foi assim, que desde então

Ela foi Feliz dentro de suas possibilidades

E porque não esperou mais

Nenhum um príncipe

Nem alimentou nenhuma expectativa

Que dependesse do “Outro”

E esqueceu que lhe ensinaram a depender

E refutou todas às violências

Contra a sua natureza

Apenas por isso – ou por tudo isso

Ela já sentiu-se imensamente feliz!

quarta-feira, 2 de março de 2016

Além do infinito do meu olhar... (Maria Gonçalves Ibanhes)




Não queira radiografar

Minha alma

Meus olhos não dizem

Mais do que um profundo

E drástico não-dizer

Talvez em cada raio da íris

Se esconda um rio

Um sentimento

Sabe-se lá...

Nem eu sei

Todas as provações das negras nuvens

Por ali se aprofundaram

De modo que a superfície

Nada pode revelar

As alegrias transbordantes

E as serenas perpassam

O infinito do meu olhar

Mas não podem conter

O fluxo de mistério

Entrecortado de crepúsculos

E alvoradas

Não tente entrar nesse poço

Ele apenas te revelará abismos

E labirintos

Não tente decifrar o enigma

Há só, quase visível

Um lance de dados

Mas se jogares

Poderás entrar num torvelinho

Tempestade é coisa certa...