Açucena

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sábado, 7 de maio de 2011

Tragada pelo “vulcão”

Tragada pelo “vulcão”



A melancolia do vulcão, um romance de Edgar Cézar Nolasco, lançado em Campo Grande,  dia 21 Junho de 2006, na Morada dos Baís. È um título que me deixou intrigada, principalmente porque toda vez que vou me referir a ele, num recorrente ato falho, falo a fúria do vulcão.
            Esse ato falho, talvez, ocorra devido à forte impressão que me causou a obra, pois fui tragada por ela, completamente, em uma tarde de domingo, ou seja, eu me abismei na fúria desse vulcão onde tudo que sobrou foi a melancolia e a certeza de que “a vida é mesmo inexorável”.
            Piglia diz, em sua obra Três propostas para o próximo milênio, que “la literatura muestra que hay acontecimentos que son muy difíceles, casi imposibles de transmitir y suponen uma relación nueva com los limites del lenguaje”.  Nolasco, ao travar um diálogo com vozes como as de Virgínia Woolf e Clarice Lispector, inscreve o limite de sua própria escritura, tal como as escritoras que sempre escreveram num limite.
            Seus personagens narradores vivem no limite da vida tentando narrar a morte, cada um a sua maneira. A polifonia de vozes tentando narrar o inenarrável, o que só tornou-se possível, diante dessa relação limítrofe que o escritor engendrou com a linguagem, como sugere Piglia.
            O texto em si é abismal, tanto por sua metalinguagem e diálogos com vozes outras da tradição literária, como pela escorregadia mudança de narradores, a vida é mesmo um grande deslize no tobogã que leva, inevitavelmente,  à morte, cedo ou tarde. Isso é terrível, mas é a única verdade, a única certeza, o resto, como acredita Minta, “são só desejos”, são eles que nos alimentam e nos fazem seguir até morrer.
            Foi assim que fui devorada pelo emaranhado de vozes que jorram perigosas lavas e trazem consigo a representação da perda, da morte e da dor. Vi-me ali, diante do abismo, pois parece que cada página do livro espelha a dor que sentimos frente à perdas irreparáveis, pois ela, a dor, essa mesma inominável, está lá, impressa em cada lava desse vulcão, assim como perpassa a alma e, sem que queiramos, deforma os nossos rostos. Nolan, o personagem escritor, tem razão, “a morte envelhece as pessoas”. É assim que nos sentimos diante de uma perda, velhos, marcados. Eu nunca tinha lido nada que traduzisse tão bem esse estado, como A melancolia do vulcão. É preciso, apenas estar alerta para não sucumbir ao abismo total da narrativa múltipla que me parece tão traiçoeira como a própria morte que narra.





                      Por: Maria de Lourdes G. de Ibanhes  (Mary Ibanhes)       

Um comentário:

  1. Maria de Lourdes G. de Ibanhes

    eu não li este livro A Melancolia do Vulcão, mas parabenizo-a pela síntese que você fez do mesmo: sucinta e clara, de tal forma a posicionar bem um possível futuro leitor do mesmo, quanto à direção ou direções dele.

    Muito obrigado pela visita, e parabéns pelo seu blog.

    Darlan

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